A situação comprova mais uma vez a boa performance do português numa das suas facetas em que estará seguramente à frente nas estatísticas europeias. Gastar dinheiro. Adoram.
A foto é demonstrativa da felicidade de alguém que acabou de estourar 285€ depois de ter estado cinco horas numa fila para comprar algo que muito provavelmente até teria direito e por apenas 50€.
“Não. Não vou esperar. Era só o que faltava!
A minha criança ainda nem vai para a escola, mas este é muito mais bonito que o do Noddy que está lá em casa e até já perdeu uma tecla quando no outro dia lhe caiu em cima o Action Man . E faz muito mais coisas. Alem disso na eventualidade de se estragar depois a escola dá outro por uns trocos.
E mais, ainda tenho o desconto da FNAC que me dá para comprar outro que por sua vez me dá desconto e assim sucessivamente.”
Algum há-de ficar de borla. Podem crer que é assim que se pensa por cá.
Tirando o ridículo da realidade em cima mencionada, o “Magalhães” é de facto espectacular (ver vídeo em baixo).
Mas como não há bela sem senão tal como diz o ditado, o aparelho e o seu sucesso não poderiam deixar de ser utilizados para fins menos didácticos a começar logo por quem o lançou.
No meio de tanta euforia motivada pela ânsia da curiosidade em conhecer o “Magalhães”, o ultimo grito da informática portuguesa ou pelo menos semi-portuguesa, o que nos fica na retina através da propaganda é um senhor de cabelo grisalho e nariz abatatado com ar simpático e de bem feitor que oferece a todas as criancinhas um computador. Sejam elas riquinhas ou pobrezinhas.
Concordo plenamente com a introdução deste meio de aprendizagem nas escolas. Agora, os moldes em que está a ser introduzido são de um oportunismo atroz.
Continuam a subsistir problemas graves na educação e este Pai Natal tecnológico teima em atirar areia para os olhos do povo.
A par de não ser um objecto indispensável no ensino básico junta-se o facto de ser pago pelos contribuintes este esbanjar de equipamento informático para o qual ainda nem os professores têm formação adequada afim de o introduzir nos seus métodos de ensino.
Vamos ser pragmáticos, este computador não aquece nem arrefece nos primeiros anos do ensino básico, e deveria ter um papel muitíssimo secundário até ao fim do quarto ano de escolaridade. É que muito provavelmente num futuro próximo ninguém saberá fazer letras manuscritas assim como hoje serão muito poucos os que frequentam o ensino secundário e conseguem fazer contas de cabeça ou no papel sem ajuda de uma calculadora.